“Toda nação tem o
governo que merece”
Esta frase é conhecida e dita por muitos de nós. Usá-la-emos
para nosso contexto político atual. Então, que leitura fazer da atualidade e
dos governos que temos ou que devemos temer?
Pergunta boa, resposta complexa. Outro dia Leandro Karnal,
professor e historiador fez uma leitura muito interessante da realidade atual.
Trouxe algumas questões, onde algumas ficaram reverberando em mim. Karnal lembrou
o que Lacerda havia dito sobre o Brasil, que éramos uma nação honesta governada
por ladrões. Até poderia ter honestos na nação, mas a frase merece uma reflexão
maior. Pois deixa de lado aspectos importantes. Concordo com Karnal quando este
contesta um tanto a frase de Lacerda quando diz: não existe governo corrupto e
nação ética. Pois, a nação empresta inevitavelmente seu tom ao seu governo, ou
seja, a nação não deixa de ser o espelho do governo. Ou mais, a nação escolhe
seu governo. Sei que a nação pode ser conduzida pelas mídias, discursos
subliminares e tal. Mas todo povo, nação tem o governo que merece.
Importante entender que há corrupção por todo lado, há um
comportamento social corrupto. O curioso é que vemos a corrupção como um mal fora
de nós. Como sendo algo que acometesse ao outro ou aos políticos. A corrupção
não está somente num ou noutro partido político. Ela está no ser humano, no
sujeito.
Então não temos solução?
Não gosto desta palavra solução, por soar radical demais, buscar
a solução pode ser uma tarefa impossível. Fadada ao fracasso. Talvez o
fundamental nessa tarefa é combater o mal, ou combater alguns males da nossa
cultura, como por exemplo: a misoginia, a corrupção, o racismo, a homofobia, a cultura
do estupro, a cultura do medo e muitas outras culturas opressoras. Trata-se de um
processo longo e necessário. Podemos estar a passos lentos, mas estamos
andando. Hoje temos milionários, muito ricos e brancos na cadeia. Isso é bom, há
algum tempo atrás isso era impensável. Se começarmos a respeitar o outro, seja
quem for, é indício que temos jeito sim.
Uma questão importante de ser pensada é que na medida que
temos a abertura e voz para vários movimentos sociais relevantes, temos também
a construção de etapas para que estes movimentos se instaurem. Como as etapas
da criminalização, da resistência e da celebração. A celebração é fundamental, para restaurar a
identidade dos movimentos, abrir espaços para ouvir as vozes, cores e nomes aos
grupos. Mas a resistência existe e é real. Isso se faz na voz dos conservadores
e dos preconceituosos. A criminalização estamos vencendo. Importante que estes
discursos apareçam e que possam ser interrogados. Precisamos falar disso. Ou
seja, combater fanatismos e absolutos com argumentos. A cultura do medo é o que
temos de pior, pois atrás do medo temos, na maioria das vezes, grandes
preconceitos.
Resta-nos escutar e respeitar as várias vozes, cores e
sabores... o diálogo é o que temos de melhor, mesmo que este diálogo seja com
um fascista.
Artigo publicado na ZH de 23/06/2017
Artigo publicado na ZH de 23/06/2017
3 comentários:
Cumprimentos por texto....pertinente à este momento já estendido pra "eras", no qual estamos inseridos. Fica a questão, que me 'toca' : "Existe Diálogo em esta forma de radicalismo político autoritário nacionalista, que está galgando destaque?"
Esta é a grande questão Maria Luiza. A possibilidade de diálogo neste modelo político é trabalhoso, mas é o que nos colocaria num horizonte mais interessante e de mudanças benvindas.
Grata pela teu comentário
Gostei mto Rosane. Infelizmente os brancos abonados saíram da prisão e, reiniciando, " licitamente" aos abusos. Concordo a cultura do medo é perverso, perigoso modo de controle...
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