quarta-feira, 1 de março de 2017

“Toda nação tem o governo que merece”

Esta frase é conhecida e dita por muitos de nós. Usá-la-emos para nosso contexto político atual. Então, que leitura fazer da atualidade e dos governos que temos ou que devemos temer?
Pergunta boa, resposta complexa. Outro dia Leandro Karnal, professor e historiador fez uma leitura muito interessante da realidade atual. Trouxe algumas questões, onde algumas ficaram reverberando em mim. Karnal lembrou o que Lacerda havia dito sobre o Brasil, que éramos uma nação honesta governada por ladrões. Até poderia ter honestos na nação, mas a frase merece uma reflexão maior. Pois deixa de lado aspectos importantes. Concordo com Karnal quando este contesta um tanto a frase de Lacerda quando diz: não existe governo corrupto e nação ética. Pois, a nação empresta inevitavelmente seu tom ao seu governo, ou seja, a nação não deixa de ser o espelho do governo. Ou mais, a nação escolhe seu governo. Sei que a nação pode ser conduzida pelas mídias, discursos subliminares e tal. Mas todo povo, nação tem o governo que merece.
Importante entender que há corrupção por todo lado, há um comportamento social corrupto. O curioso é que vemos a corrupção como um mal fora de nós. Como sendo algo que acometesse ao outro ou aos políticos. A corrupção não está somente num ou noutro partido político. Ela está no ser humano, no sujeito.
Então não temos solução?
Não gosto desta palavra solução, por soar radical demais, buscar a solução pode ser uma tarefa impossível. Fadada ao fracasso. Talvez o fundamental nessa tarefa é combater o mal, ou combater alguns males da nossa cultura, como por exemplo: a misoginia, a corrupção, o racismo, a homofobia, a cultura do estupro, a cultura do medo e muitas outras culturas opressoras. Trata-se de um processo longo e necessário. Podemos estar a passos lentos, mas estamos andando. Hoje temos milionários, muito ricos e brancos na cadeia. Isso é bom, há algum tempo atrás isso era impensável. Se começarmos a respeitar o outro, seja quem for, é indício que temos jeito sim.
Uma questão importante de ser pensada é que na medida que temos a abertura e voz para vários movimentos sociais relevantes, temos também a construção de etapas para que estes movimentos se instaurem. Como as etapas da criminalização, da resistência e da celebração.  A celebração é fundamental, para restaurar a identidade dos movimentos, abrir espaços para ouvir as vozes, cores e nomes aos grupos. Mas a resistência existe e é real. Isso se faz na voz dos conservadores e dos preconceituosos. A criminalização estamos vencendo. Importante que estes discursos apareçam e que possam ser interrogados. Precisamos falar disso. Ou seja, combater fanatismos e absolutos com argumentos. A cultura do medo é o que temos de pior, pois atrás do medo temos, na maioria das vezes, grandes preconceitos.

Resta-nos escutar e respeitar as várias vozes, cores e sabores... o diálogo é o que temos de melhor, mesmo que este diálogo seja com um fascista.

Artigo publicado na ZH de 23/06/2017

3 comentários:

Maria Luiza Rostirolla Lakus disse...

Cumprimentos por texto....pertinente à este momento já estendido pra "eras", no qual estamos inseridos. Fica a questão, que me 'toca' : "Existe Diálogo em esta forma de radicalismo político autoritário nacionalista, que está galgando destaque?"

Rosane Furst disse...

Esta é a grande questão Maria Luiza. A possibilidade de diálogo neste modelo político é trabalhoso, mas é o que nos colocaria num horizonte mais interessante e de mudanças benvindas.
Grata pela teu comentário

virgínia além mar floresta vicamf / disse...

Gostei mto Rosane. Infelizmente os brancos abonados saíram da prisão e, reiniciando, " licitamente" aos abusos. Concordo a cultura do medo é perverso, perigoso modo de controle...