domingo, 23 de setembro de 2012


                                                   A ética da psicanálise

Para o psicanalista Jacques Lacan o seminário 7 - a ética da psicanálise foi realizado num tempo difícil entre ele e a IPA, a Associação Internacional de Psicanálise. Num período que culminou na sua exclusão do quadro de psicanalistas didatas da instituição em 1963. Processo que Lacan denominou “a grande excomunhão”.  Passados alguns anos, no seu seminário 20 - mais, ainda (1972-73), Lacan irá dizer que de todos os seminários que viessem a ser publicados por outras pessoas, o seminário 7 era o único que gostaria de reescrever. Este seminário não foi publicado na época por uma questão de polidez por parte de Lacan em relação aqueles que o criticavam. Também não pretendia convencê-los de coisa alguma. O mesmo tinha um caráter subversivo em relação a moral “psicanalítica” dominante. Estas observações reforçam a importância do seminário pelas questões ali colocadas e desenvolvidas.
Somente cinco anos após a morte de Lacan, em 1986, o seminário 7 – a ética da psicanálise foi publicado e até hoje mantém seu vigor.
Neste seminário logo de início Lacan diz que pretende falar de ética e não de moral, dando a indicação do que iria desenvolver. Pretendia distanciar-se do caráter prescritivo – em termos de valores e ideais de conduta, que caracteriza a reflexão filosófica sobre a moral na época. A moral entendida como o conjunto de regras e normas que  funcionam como um sistema de obrigações, um sistema de coação social. Deste modo a reflexão que Lacan propõe neste seminário não se limita ao reconhecimento do supereu, cujos paradoxos Freud já havia assinalado. Mas vincula-se ao imperativo freudiano que diz o seguinte: onde está o isso, que o eu possa advir – no que Lacan aponta para a iminência do desejo. Enfatizamos com isso a função fecunda do desejo no direcionamento da ação humana e que o mesmo está no centro da discussão ética para a psicanálise.