sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Psicanálise e Educação

O interesse da psicanálise as questões colocadas pela educação assumiram formas muito diversificadas, em função dos avanços das mesmas e também por influência do contexto social onde suas intervenções são e foram convocadas.
Algumas questões sobre a educação foram evocadas por Freud, já em 1905, no Três ensaios sobre a sexualidade, sublinhando alguns aspectos temos: o benefício que adulto pode extrair de energias infantis não reprimidas, na medida em que elas fornecem material para o processo cultural da sublimação. A criança deve aprender a dominar suas pulsões. Dar a criança liberdade de seguir irrestritamente todos os impulsos é impossível e, se tentássemos seria muito nefasto.
É preciso descobrir uma maneira para que a educação possa realizar o máximo e prejudicar o mínimo. A questão é saber até onde se pode ir, em que momentos e através de que meios. Ao nos perguntarmos por estas questões, estamos nos perguntando pela questão ética. A reflexão é necessária e pertinente nos nossos tempos. Já em 1898, em A sexualidade na etiologia das neuroses, dois anos antes de publicar a Interpretação dos Sonhos, Freud denunciava a hipocrisia em matéria de sexualidade na sociedade e convocou a uma “franqueza geral” quanto a esse assunto. Se Freud solicitava uma tolerância no campo sexual não foi por uma convicção ideológica, mas em razão de uma experiência clínica que lhe apontara, na repressão a sexualidade, o fator responsável pelas neuroses. E foi dentro desta visão que Freud condenou a sociedade de sua época. Para ele nossa civilização se constrói sobre a repressão das pulsões, e estava convencido de que o aumentos das doenças nervosas (psíquicas) provém do aumento das repressões sexuais.
No entanto, Freud não era partidário de nenhuma teoria da “permissividade” educacional ou de que abandonássemos unicamente ao princípio do prazer. Se ele achava que as repressões impostas à criança pela moral corrente produziam efeitos nefastos, nem por isso desconhecia a natureza eventualmente perversa da sexualidade.
A educação no seu conjunto de açôes deve prevenir tanto a perversão quanto o seu negativo, a neurose. Esses eram os objetivos que Freud atribuía a educação, ao mesmo tempo reconhecendo que, se a sublimação podia ser favorecida, nem por isso podia ser ordenada, escapando a qualquer dominação e vontade.
Desta maneira, Freud nunca alimentou a ilusão que a educação pudesse proteger completamente a criança dos recalcamentos. O inconsciente não é educável. O inconsciente escapa a qualquer regra social. Estamos condenados a avaliar seus efeitos só depois, nem sempre nos sendo possível compreender suas razões. Freud nos mostrou que a neurose está inscrita na normalidade, e que é inútil separá-la categoricamente. A educação não protege a criança de uma ação terapêutica futura, mas pode fazer muito.