segunda-feira, 12 de outubro de 2009

De uma ética para uma estética

Na dissertação de mestrado minha pesquisa se deu acerca da questão ética, e de como é interpretada nos campos da educação e da psicanálise. Hoje deparo-me com a conseqüência desta discussão e passo a refletir sobre a passagem da ética para uma estética.
Os modos de conhecimentos, as formas de vida, nossa experiência estética estão pautados por imperativos que são celebrados em inúmeras narrativas. A história da filosofia revela esse processo. Assistimos o apego as aparências e um certo crepúsculo do elemento da criação. Talvez estejamos tomados pela ânsia e velocidade das tecnologias do saber. Nas aprendizagens o risco é imanente, até porque a educação produz e é produzida pela cultura, que por sua vez se constitui destas narrativas. A reflexão é a maneira de enfrentarmos o risco.
A ética ocidental se pautou na busca do racional, base da ética na educação que perdurou séculos[1]. Hoje, temos claro a falência das narrativas com pressupostos essencialmente racionais. Sabemos que as mesmas sofreram uma instabilidade intensa. Com o rompimento da unidade da razão surgiram inúmeros modos de vida, e com isso a pluralidade, a diferença e a alteridade. A educação foi a que mais sofreu com a crise da racionalidade. Estando esse racional em crise é necessário que possamos pensar em outras formas de produzir conhecimento, e neste momento que entramos com a experiência estética.
Temos claro que não é possível buscar um sentido a priori, são necessários sentidos, estes a serem criados, ou seja, dado por quem navega. Na verdade essa é a especificidade do conceito de significante na psicanálise. Nós não temos como organizar o mundo do entorno se não metaforizarmos. “(...) o perder-se no interior do caminho da compreensão, faz parte de todo processo criativo. Qualquer forma de pensamento e de expressividade estética está impossibilitado de existir, se, durante sua caminhada, não perder um naco de suas intenções primordiais, justamente para que possa retornar a algo que estava alhures, mas pensava encontrado.” (Bairon, 2005, p.79.)
Ao propormos a experiência estética entramos com um questionamento e também com uma proposta de ampliar os horizontes e pensar uma educação que possa levar em conta esses sentidos a serem criados, ou seja, pensar o processo criativo.
A noção de alteridade traz na sua esteira a noção do Outro, uma categoria que se revela indispensável para situar boa parte daquilo a que a psicanálise é chamada a conhecer. Essa noção é concebida como um espaço aberto de significantes que o sujeito encontra desde seu ingresso no mundo, trata-se de uma realidade discursiva que Jacques Lacan fala no Seminário 20 – mais, ainda.
Na psicanálise, conforme Lacan, a dimensão estética aponta para a dimensão do nome-do-pai. E uma das conseqüências do nome-do-pai é ordenar o desejo segundo as leis humanas. Quando Lacan traz o conceito de metáfora paterna, outra forma de designar o nome-do-pai, dirá que se trata de uma escrita que propõe uma concepção da função do pai no complexo de castração que também viesse a evitar certas dificuldades que Freud e seus seguidores tinham encontrado na sua época.
Para explicar o complexo de castração convém explicar como o pai se torna portador da lei: nenhum pai, seja ele real ou imaginário, está à altura da função, ou é capaz de exercê-la plenamente, pois se trata da lei simbólica, isto é, da própria lei do significante e, do pai simbólico, há apenas traços no próprio texto do discurso. A função paterna é instauradora da lei simbólica por escrita significante fundada na escrita da metáfora. Ora, o pai simbólico é o significante ou um dado irredutível do mundo significante. E nada no significante pode explicar o ser pai. Pois trata-se de uma metáfora, e alguma coisa no discurso concreto em que o sujeito se constitui comporta alguma coisa que corresponde a essa função ou não.
A experiência estética enquanto um modo de conhecer, enquanto possibilidade de compreender as exigências decorrentes da diversidade, da pluralidade características da atualidade é um dos nossos elementos de estudo. E o conceito lacaniano o nome-do-pai como uma escrita significante que possibilita a emergência do sujeito e conseqüentemente nos subjetivarmos nos auxilia no sentido de compreendermos como se dá a produção de saber.

[1] Este aspecto foi trabalhado na minha dissertação de mestrado: A ética na educação: uma perspectiva psicanalítica, no Cap. 2 – A ética na educação, p.19-36.