terça-feira, 6 de janeiro de 2015


A arte de viver

Theodor Fontane  dizia que a vida tal como ela se apresenta é árdua, proporciona-nos muitos sofrimentos, decepções e tarefas as vezes impossíveis. E para suportá-la não poderíamos dispensar medidas paliativas, ou seja, não poderíamos passar sem construções auxiliares. Freud no seu texto O Mal estar na cultura cita algumas medidas ou derivativos poderosos que nos fazem extrair luz da desgraça. Como por exemplo, a atividade científica ou intelectual, as satisfações substitutivas, tal como as oferecidas pela arte, são ilusões em contraste com a realidade, e poderíamos nos perguntar onde a religião encontra lugar nessa série? Esta última questão caberia uma reflexão mais aprofundada, não é nosso interesse aqui.  
Ora sabemos que a questão do propósito da vida humana foi levantada várias vezes e nunca se teve uma resposta satisfatória e talvez não haja. Não se trata de enumerar métodos para conseguir a felicidade e manter afastado o sofrimento. Há de certa forma uma demanda social de uma técnica da arte de viver, e é isso que nos interessa aqui. Talvez aí possamos pensar numa modalidade de vida que faz do amor o centro de tudo, que busque toda a satisfação de amar e ser amado. Temos que concordar que uma atitude psíquica deste tipo chega a nós de modo bastante natural. Uma das formas através da qual o amor se manifesta - o amor sexual – nos proporciona experiências de prazer, fornecendo com isso um modelo de busca de felicidade. Então temos a questão: há algo mais natural do que persistirmos na busca da felicidade do modo como a encontramos? A questão frágil desta técnica de viver é que nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca tão desamparadamente infelizes quando perdemos o nosso objeto amado. O curioso, porém é que isso não elimina com a técnica de viver baseada no valor do amor como meio de obter felicidade.