quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Saber viver


O psicanalista é considerado como aquele que deve minorar o sofrimento e a angústia de quem o procura e, por outro lado, sua função crítica o leva a provocar o desconforto. Pode-se mesmo dizer que ele existe para criar o desconforto. Se ele deve permitir a seus analisantes o acesso a seus desejos inconscientes, isto implica uma descoberta que não é nada banal. Ao contrário provoca fatalmente a angústia e a revolta. Desta posição surge a dimensão ética da função do psicanalista que não pode se confundir com a promoção dos “bens” que enganam, ou seja, aqueles bens que visam ludibriar e, que são na maioria das vezes, apregoados pelo discurso do poder. O bem a que visa o psicanalista para seu analisante é o bem da verdade de seu desejo que o possibilita saber viver sua castração simbólica como um dom, como uma aptidão. Este dom o confronta com o bem da escassez e não com aquele bem que abarrota, que o torna cheio. Vivermos a castração simbólica, nos darmos conta que não somos ilimitados, tampouco que somos onipotentes, isto é, viver esta castração como um dom é o que poderá nos liberar dos quadros do pensar convencional, abrindo-nos caminhos para as invenções, libertando-nos de nossos grilhões para quem sabe grafarmos uma nova escrita do sintoma.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ser para a morte
No texto As variantes do tratamento padrão dos Escritos de Jacques Lacan o sujeito “in statu nascendi” é uma realidade mortal, ou ser para a morte, da qual o eu é justamente o desconhecimento. Desde então o instinto de morte pode ser definido como a lembrança silenciosa da realidade. Essa interpretação é confirmada pelo que Lacan acrescenta sobre a transferência. Para que a relação de transferência possa escapar aos efeitos, como por exemplo o da análise conduzida, será necessário que o analista tenha se despojado da imagem narcísica de seu eu e de todas as formas do desejo onde ela se constitui, para reduzi-la a uma única figura que, sob suas máscaras, a sustenta: a do mestre absoluto, a morte. É justamente aí que análise do eu encontra seu termo ideal. A morte não se trata ou ainda, essa morte não tem nada a ver com aquilo que é dito no universal “todo ser humano é mortal”, se trata neste caso do ser para a morte que resta a ser reformulado, ou a se reformular para cada um num trabalho de análise.