terça-feira, 20 de dezembro de 2011


A questão do sujeito

Uma das perguntas fundamentais do sujeito em análise ou em terapia é: tenho de direito a quê? Desta forma o neurótico pode recusar-se a abandonar o que impede de ter prazer, pois inconscientemente, ele não se sente no direito de desfrutar, o que é uma ficção simbólica, operativa, pois é exatamente isso que  estrutura a neurose. O conceito de sujeito é o que há de revolucionário em Lacan. Ele dizia que seu ensino começou em 1953 com o artigo Função e campo da palavra e da linguagem em psicanálise, reeditou no seu livro Escritos e confirmou através de uma introdução sob o título Do sujeito enfim em questão. Com isso marcou seu ensino não com a lingüística, nem com o estruturalismo, mas com a consideração do sujeito. O sentido do sujeito na clínica é de um sujeito que se estabelece quanto ao direito e não quanto ao fato, por isso observar o sujeito no sentido de buscá-lo na objetividade, ou quantificá-lo é não querer encontrá-lo. Dizer que o sujeito na clínica psicanalítica não  é um sujeito de fato, mas de direito equivale a dizer que não se pode separar a clínica da ética da psicanálise. Até porque a primeira incidência  clínica da ética da psicanálise é o próprio sujeito.

terça-feira, 8 de novembro de 2011


O que é o inconsciente?

Foi somente em 1878 que o termo inconsciente aparece no dicionário da Academia sob a forma de substantivo. Até a descoberta freudiana o inconsciente, sob a compreensão da psicologia da segunda metade do sec XIX – denotava tudo aquilo que não é consciente para o sujeito, o inconsciente era tudo aquilo que escapava a sua consciência espontânea e refletida.
Ao propor a hipótese de um lugar especificamente referido a uma espécie de consciência inconsciente, Freud não inventa um termo novo, mas se empenha em legitimar com base nas suas investigações, a observação daquilo que tropeça, que cambaleia, que falha em todo mundo, quebrando a continuidade lógica do pensamento e dos comportamentos da vida cotidiana: sonhos, lapsos, atos, falhos, esquecimentos e de um modo amplo, os sintomas compulsivos dos neuróticos.
O tratamento psicanalítico, ou a psicanálise iniciou uma nova revolução que trouxe a “peste” ao renegar as bases do cogito cartesiano na conhecida tese: “penso logo existo” para a tese: “o eu não é mais senhor em sua própria morada”.
Com Jacques Lacan, psicanalista que renova as teses freudianas, percebe-se que as palavras não são coisas banais, mas que introduzem uma chamada para cada sujeito inventar sua maneira de ler. O psicanalista tem como tarefa fazer perceber o sujeito em seu próprio discurso. 

terça-feira, 20 de setembro de 2011


Nossos valores dizem da nossa forma de viver

A personalidade se constrói a partir do eu e do mundo, ou ainda, da cultura na qual estamos inseridos. Neste processo a forma como entendemos e significamos nossos valores e conceitos aparecem nas nossas escolhas, experiências e são repetidos nas inúmeras relações que vamos construindo no decorrer da vida.
Hoje percebemos na cultura, e isso significa nas relações que participamos um apego as aparências e certo declínio de elementos que envolvem a criação. Talvez estejamos tomados pela ânsia e velocidade das tecnologias do saber. Nas nossas relações e aprendizagens esse risco é imanente, até porque não há como estar fora do fluxo da cultura, que apresenta matizes e apelo ao consumo como características marcantes. Neste caso, a reflexão é a maneira de enfrentarmos o risco.
As relações humanas também sofrem uma instabilidade intensa. Com o rompimento das certezas surgem inúmeros modos de vida, e com isso a pluralidade, a diferença e a alteridade. Estando as certezas em crise é necessário que possamos pensar em outras formas de produzir, de viver, e é neste momento que trazemos este conceito: experiência estética. Sabemos que não é possível buscar um sentido que garanta, são necessários sentidos, estes a serem criados, ou seja, dado por quem navega, quem vive. Essa é a especificidade do conceito de significante na psicanálise. Nós não temos como organizar o mundo do entorno, ou seja, o mundo em que vivemos se não metaforizarmos, se não criarmos.

quinta-feira, 9 de junho de 2011


Bloomsday

No próximo dia 16 de junho estaremos comemorando o Bloomsday, o dia de Leopold Bloom, ou melhor, o dia em que o personagem do romance  Ulisses de James Joyce vive e revive sua história. Oficiosamente 16 de junho de 1904 é o dia em que Joyce conheceu Nora, sendo portanto o Bloomsday a comemoração do encontro do escritor e da sua musa. Em 1954 o Bloomsday foi celebrado pela primeira vez por cinco escritores, entre os quais, O`Brien, que partiram à cavalo de Marcelo Tower – onde se passa o primeiro capítulo de Ulisses – com o propósito de ir longe, mas as tentações, os pubs eram tantos no caminho que a coisa desandou. Ultimamente o Bloomsday tem sido celebrado por várias pessoas no mundo inteiro. Talvez pudéssemos pensar ou dizer que o Bloomsday é uma celebração do amor – o dia em que Joyce e Nora se encontraram – esta poderia ser uma interpretação interessante, pois Ulisses foi um presente que Joyce deu a Nora. E que presente!
É muito provável que no dia 16 em  Porto Alegre em algum pub ou outro lugar se encontrem escritores e amantes da boa literatura para comemorar o Bloomsday.

terça-feira, 24 de maio de 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011


Saber viver


O psicanalista é considerado como aquele que deve minorar o sofrimento e a angústia de quem o procura e, por outro lado, sua função crítica o leva a provocar o desconforto.
Pode-se mesmo dizer que ele existe para criar o desconforto. Se ele deve permitir a seus analisantes o acesso a seus desejos inconscientes, isto implica uma descoberta que não é anódina, ou seja, não é nada banal. Ao contrário  provoca fatalmente a angústia e a revolta.
Desta posição surge a dimensão ética da função do psicanalista que não pode se confundir com a promoção dos “bens” engodativos, ou seja, aqueles bens que visam ludibriar e, que são na maioria das vezes, apregoados pelo discurso do poder.
O bem a que visa o psicanalista para seu analisante é o bem da verdade de seu desejo que o possibilita saber viver sua castração simbólica como um dom, como uma aptidão. Este dom o confronta com o bem da escassez e não da locupletação - aquele bem que abarrota, que o torna cheio.
Vivermos a castração simbólica, isto é, nos darmos conta que não somos ilimitados, tampouco onipotentes, e viver esta castração como um dom é o que pode nos liberar dos quadros do pensar convencional, abrindo-nos caminhos para as invenções, libertando-nos de nossos grilhões para quem sabe grafarmos uma nova escrita do sintoma.

sábado, 22 de janeiro de 2011


Uma questão de Linguagem

Outro dia num happy hour com amigos - alguns conhecidos outros novos -   o assunto entre psicanalistas, filósofos e simpatizantes versa quase que sempre sobre alguma “grande” questão. E a questão naquele momento era a linguagem.  Trago aqui um pouco do que esta conversa me fez seguir pensando. Afirmei entre uma argumentação e outra, que a linguagem é o objeto da psicanálise.  Isso é muito importante dizer, às vezes esquecemos disso. A importância da linguagem na psicanálise começa com Freud, quando registra o quanto o material da linguagem é relevante no tratamento do objeto de investigação. Seus livros como Interpretação dos Sonhos, Relação entre o chiste e o inconsciente, Psicopatologia da vida cotidiana são mostras do quanto Freud tomou como tarefa isolar e estudar o material de linguagem.
Constatou que o sintoma é efeito de linguagem sobre o sujeito. Esta observação vêm desde sua experiência   clínica com a escuta das histéricas. Um outro artigo que acrescentaríamos a estes três livros citados é  Uma relação entre um símbolo e um sintoma (Freud (1916) Vol. XIV),  onde discute e propõe aproximar uma coisa da outra, ou seja, o símbolo e o sintoma. Freud procurava uma origem para os sonhos, chistes, lapsos de um lado e os fenômenos lingüísticos por outro lado. Então há várias soluções para a questão, pois o desenlace da questão da linguagem e do falante não se dá entre as palavras e as coisas tão somente.
Agradeço a Gardênia, Flademir e Fernanda pelo momento fecundo.