domingo, 15 de janeiro de 2012


O que pode habitar em nós

Até onde o ser humano na busca insana pelo controle da vida, ou na busca pela perfeição, ou ainda, no desejo de poder é capaz de chegar? Outra pergunta: o que podemos ler nestas posições, nestes desejos tão atuais? Me arrisco a dizer que podemos ler,  grosso modo, a imensa dificuldade que temos de lidar com a idéia de finitude, ou seja, com a idéia da morte, de como podemos nos atrapalhar com as perdas e do quanto não suportamos a falta. É com estas questões, nada novas, que saio do cinema, depois de assistir A Pele que Habito, de Pedro Almodóvar. É notável a forma como este diretor apresenta a película, mostrando como podemos ser cruéis e insanos numa roupagem que espanta, mas aos poucos vamos digerindo sem nos darmos conta. O protagonista, um médico cirurgião, num enredo que mesmo em se tratando de ficção traz um quê da realidade que vivenciamos. Uma realidade onde prepondera a lógica do excesso, da onipotência, e da falta de ética. Se olharmos para o avesso desse sintoma perceberemos que a dificuldade é de lidar com a falta, que significa lidar com as perdas que inevitavelmente virão pelo caminho de todos, sem exceções, sejam médicos, dentistas, psicanalistas ou lavradores.
No filme a recusa do personagem principal em aceitar a finitude e a busca da perfeição o coloca na rota e numa conduta sem escrúpulos, perfilando-se as mentes mais insanas e perversas que já existiram e fizeram a história da humanidade. O fim só poderia ser um: trágico.