Ética e estética
Os modos de conhecimentos, as formas de vida, nossas
experiências estéticas estão pautadas por imperativos que são celebrados em inúmeras
narrativas. Hoje, assistimos o apego as aparências e um certo crepúsculo de
elementos que envolvem a criação. Possivelmente porque estamos tomados pela
ânsia e velocidade das tecnologias. No processo das aprendizagens o
risco é imanente, até porque a educação produz e é produzida pela cultura, que
por sua vez se constitui destas narrativas. A reflexão é a maneira de
enfrentarmos o risco de não sucumbirmos ao ponto de ficarmos reféns dos padrões discursivos,
que como já dissemos opera na cultura. A cultura nada mais é do que fluxo.
É fato que a ética ocidental se pautou na busca do
racional, base da ética na educação que perdurou séculos[1].
Hoje, temos claro a falência das narrativas com pressupostos essencialmente
racionais. Sabemos que estas narrativas sofreram uma instabilidade intensa. Com
o rompimento da unidade da razão surgiram inúmeros modos de vida, e com isso a
pluralidade, a diferença e a alteridade. A educação foi a que mais sofreu com a
crise da racionalidade. Estando esse racional em crise é necessário que
possamos pensar em outras formas de produzir conhecimento, produzir modos de
viver, e neste momento que propomos pensar a experiência estética como propiciadora destas novas criações.
Podemos inferir e dizer que nosso país, o Brasil, a
partir dos eventos últimos, ou seja, os movimentos, as redes sociais, a presença do povo nas ruas, com o emblemático chamado, “o gigante acordou”. Tudo isso pode servir como um exemplo do que pode compor numa experiência estética. Isto é, não tem como passarmos por uma experiência estética e sairmos iguais.
Na experiência experiência estética temos que não é possível
buscar um sentido a priori, são
necessários sentidos, estes a serem criados, ou seja, dado por quem navega. Na
verdade essa é a especificidade do conceito de significante na psicanálise. Nós
não temos como organizar o mundo do entorno se não metaforizarmos. “(...) o
perder-se no interior do caminho da compreensão, faz parte de todo processo
criativo. Qualquer forma de pensamento e de expressividade estética está
impossibilitado de existir, se, durante sua caminhada, não perder um naco de
suas intenções primordiais, justamente para que possa retornar a algo que
estava alhures, mas pensava encontrado.” (Bairon, 2005, p.79.)
[1] Este
aspecto foi trabalhado na minha dissertação de mestrado: A ética na educação: uma
perspectiva
psicanalítica, no Cap. 2 – A ética na educação, p.19-36.