quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011


Saber viver


O psicanalista é considerado como aquele que deve minorar o sofrimento e a angústia de quem o procura e, por outro lado, sua função crítica o leva a provocar o desconforto.
Pode-se mesmo dizer que ele existe para criar o desconforto. Se ele deve permitir a seus analisantes o acesso a seus desejos inconscientes, isto implica uma descoberta que não é anódina, ou seja, não é nada banal. Ao contrário  provoca fatalmente a angústia e a revolta.
Desta posição surge a dimensão ética da função do psicanalista que não pode se confundir com a promoção dos “bens” engodativos, ou seja, aqueles bens que visam ludibriar e, que são na maioria das vezes, apregoados pelo discurso do poder.
O bem a que visa o psicanalista para seu analisante é o bem da verdade de seu desejo que o possibilita saber viver sua castração simbólica como um dom, como uma aptidão. Este dom o confronta com o bem da escassez e não da locupletação - aquele bem que abarrota, que o torna cheio.
Vivermos a castração simbólica, isto é, nos darmos conta que não somos ilimitados, tampouco onipotentes, e viver esta castração como um dom é o que pode nos liberar dos quadros do pensar convencional, abrindo-nos caminhos para as invenções, libertando-nos de nossos grilhões para quem sabe grafarmos uma nova escrita do sintoma.